A Cúpula do Clima reuniu as principais lideranças mundiais em Glasgow para discutir o tema de mudanças climáticas. Ao final de intensas rodadas de negociações, os quase 200 países presentes à COP26 assinaram um acordo para manter viva a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
À primeira vista, o acordo apresentou alguns avanços na direção certa. Por exemplo, o compromisso de reduzir as emissões de CO2 em 45% até 2030 e de neutralizar, até 2050. Nesse sentido, a neutralidade de CO2 acontece quando as emissões são reduzidas ao máximo e as restantes são totalmente compensadas por reflorestamento e tecnologias de captura de carbono da atmosfera.
No entanto, a justiça climática e a ajuda financeira aos países pobres apresentou pouca evolução. Afinal, os países pobres tendem a emitir menos gases de efeito estufa e a sofrer mais com os eventos extremos causados pelo aquecimento global.
Vamos elencar as principais vitórias e fracassos da COP26:
Diminuição de combustíveis fósseis
Principais conquistas do acordo:
- Acelerar a transição energética para fontes limpas.
- Reduzir subsídios “ineficientes” a combustíveis fósseis e
- Reduzir o uso de carvão que não use tecnologia de compensação de emissões.
De fato, a ambição maior seria eliminar o uso de carvão e petróleo. No entanto, a grande pressão de países pró-carvão e de grandes exportadores de petróleo, como Arábia Saudita, Índia, China e Rússia impediu essa conquista.
Mas, um grupo de 40 países, incluindo Reino Unido, Canadá e Polônia, assinou um acordo paralelo para eliminar o uso de carvão mineral de sua matriz energética entre 2030 e 2040. Pena que a lista não inclui os dois maiores emissores do mundo: China e Estados Unidos.
No entanto, esta é a primeira vez que uma decisão na Convenção do Clima reconhece explicitamente a necessidade de transição de combustíveis fósseis para renováveis.
Transição para energia renovável e o novo mercado de carbono internacional
Os combustíveis fósseis estão perdendo sua licença social, isto é, sua licença para existir!
As fontes de energia solar e eólica que crescem de forma exponencial agradecem e são vencedoras da COP26. Afinal, com a redução gradual de subsídios ao carvão, petróleo e gás natural, a atratividade da energia renovável aumenta. Além disso, energia renovável deve se tornar o novo padrão para novos investimentos em geração de energia.
O avanço da demanda por veículos elétricos e por computadores aponta para demanda crescente que deverá ser atendida pela energia solar e eólica. Além disso, novos modelos de negócios, como a energia solar por assinatura da SUNWISE tem um papel fundamental para democratizar o acesso à energia limpa no Brasil. Afinal, não são todos os brasileiros que dispõem de R$ 20-30mil para investir na compra e na instalação de placas solares.
Uma das maiores vitórias do Pacto de Glasgow foi a aprovação das regras do mercado de carbono internacional. Alguns pontos de destaque:
- Permite projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo de 2013 para frente, com passivo de aproximadamente 320 milhões de toneladas de CO2.
- Evita a possibilidade de uma dupla contagem. Nesse sentido, foi decidido que quando um país vende uma quantidade de créditos de carbono, ele deve incluir o valor vendido em sua NDC, da mesma forma que o país comprador deve subtrair esse mesmo valor da sua NDC. Desta forma, o valor transacionado não é contado duas vezes, tanto pelo comprador, como pelo vendedor.
- Porém ainda não houve consenso sobre a utilização de créditos de projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD) e a utilização dos créditos florestais foi prevista, mas ainda depende da definição de regramento operacional
Fracasso do pleito por justiça climática e dos US$ 1,3 trilhão a países pobres
Outro ponto era o pleito dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas pela criação de um fundo de “perdas e danos”. Para ajudar essas nações a lidar com emergências climáticas que não podem evitar. No entanto, Estados Unidos e União Europeia foram os principais países a bloquear a proposta.
De concreto e em paralelo ao Pacto, tivemos alguns compromissos interessantes:
- Países como Escócia e Bélgica se comprometeram a doar cerca de US$ 3,7 milhões para o tema, abrindo um precedente inédito.
- Glasgow também determinou a operacionalização e financiamento da Rede de Santiago para assistência técnica a países vulneráveis a perdas e danos.
- Aliança Financeira de Emissões Zero de Glasgow (GFANZ) aportará US$ 12 bilhões para combater o desmatamento e recuperação de áreas degradadas.
- Os EUA anunciaram US$ 9 bilhões para recuperação e proteção das florestas do mundo até 2030.
- Jeff Bezos anunciou US$ 2 bilhões para financiar a recuperação da natureza e transformar sistemas alimentares.
- Por fim, foi criado o Financiamento Inovador para Amazônia, Cerrado e Chaco, com aporte de US$ 3 bilhões, para garantir que a produção de gado e soja não contribua para o desmatamento na América do Sul.
Saldo positivo da COP26, mas insuficiente
Apesar de ter verem fracassos no texto, principalmente na ausência de valores para financiar ações climáticas em países em desenvolvimento, ambientalistas e especialistas em políticas climáticas dizem que o saldo é positivo.
Para Dirceu Azevedo, especialista no tema de sustentabilidade, os avanços incrementais devem ser comemorados com moderação. A transição para fontes renováveis e novas formas de consumo sustentável já está em marcha. Precisamos acelerar para evitar perdas ainda maiores, principalmente para os mais pobres e vulneráveis!